A empolgação da torcida em ver o time voltar a brigar por títulos contrasta com a preocupação da diretoria. Depois de agonizar com cinco rebaixamentos em oito anos, o Guarani volta a respirar com a boa campanha na Série C do Campeonato Brasileiro, mas sem apagar o drama de ter dívidas de quase R$ 100 milhões que resultarão na venda do estádio Brinco de Ouro, palco de sua maior conquista, o título nacional de 1978. A salvação? As categorias de base, eterna fonte de renda do clube.
Nem mesmo o incentivo da torcida bugrina na Terceirona conseguiu amenizar a crise. Mesmo com a sexta melhor média de público entre os 63 participantes (5.467 pagantes), o Alviverde não lucra com a venda de ingressos. O clube precisa entregar a renda à Justiça em praticamente todos os jogos para pagar algumas das quase 200 ações trabalhistas. Para piorar, todas as cotas do Clube dos 13 já foram adiantadas.
- Nós estamos administrando uma massa falida, mas estamos tocando em frente e ressurgindo das cinzas, como a fênix. O Guarani não tem receita e a dívida é de R$ 95 milhões. O que estamos fazendo aqui, com essa campanha, é basicamente um milagre. Apesar disso, com tempo, vamos fazer o clube voltar a ser o que era – projeta o vice-presidente de finanças Jurandir Assis.
Os cofres vazios, fizeram o Guarani passar sufoco no primeiro semestre. O Bugre só conseguiu escapar do rebaixamento na última rodada do Campeonato Paulista. Sem dinheiro para o Brasileiro, a diretoria estipulou um teto salarial de aproximadamente R$ 10 mil e encontrou dificuldades para se reforçar. As estrelas do elenco são o centroavante Fernando Gaúcho, ex-Ituano, e o volante Nunes, emprestado com metade dos salários pagos pelo Grêmio.
- É difícil montar uma equipe competitiva porque você precisa trazer os jogadores somente pelo salário e não pode extrapolar o orçamento. Montar o time foi a nossa grande dificuldade. Felizmente, a diretoria vem conseguindo pagar os atletas rigorosamente em dia – diz o gerente de futebol João Roberto de Souza, ex-diretor do Corinthians.
Direção sonha com um Kaká, mas vai vender estádio
Para compensar, o Guarani aposta nas categorias de base não só para subir como também para se reerguer. Olhando para o passado, quando revelou Careca, Edílson, Amoroso e Luisão, a diretoria tenta encontrar uma nova fonte de renda para amenizar os problemas. Metade do atual elenco é composto por atletas oriundos das divisões menores. A esperança recai no lateral-direito Messias, no meia Marcinho e no centroavante Henrique.
Boa parte do dinheiro utilizado para manter as contas em dia vem exatamente de duas produções da base. O clube vendeu recentemente os zagueiros Danilo Silva e Xandão para o Internacional e a Traffic, parceira do Palmeiras, respectivamente. A direção, porém, não revela os valores para evitar cobranças judiciais e conseguir honrar os compromissos com o futebol.
- O ideal para o Guarani seria estar na Série A por causa das cotas. Mas, enquanto isso não é possível, temos de pensar que aqui pode aparecer um Kaká que renda alguns milhões. Isso mudaria muito a nossa situação, principalmente na hora de negociar as dívidas. O problema é que a formação de jogadores requer tempo e os credores e a torcida têm pressa – comenta Assis.
A solução pode vir com uma atitude bastante polêmica: a venda do estádio Brinco de Ouro e da sede social, localizados em um dos pontos mais nobres de Campinas. O negócio já foi aprovado pelo Conselho Deliberativo e pelos associados e deve ser sacramento em 2009. Tudo seria demolido para a construção de um empreendimento imobiliário e um shopping center.
Antes, porém, os investidores se comprometem em construir uma arena para 32 mil pessoas, um centro de treinamentos com capacidade para 200 atletas e uma nova sede social, onde atualmente está o CT do clube, nas proximidades do Brinco. Além disso, o Bugre teria toda sua dívida zerada pelo consórcio e receberia R$ 30 milhões. No total, a troca envolveria cerca de R$ 270 milhões.
- Como a gente precisa de rapidez, a solução é mexer no patrimônio. O Guarani não vai vender nada e, sim, trocar, com uma compensação financeira. Temos uma área muito valorizada, mas esse negócio ainda depende do aval do poder público e ficará para 2009. A construção de um empreendimento grande criaria um impacto viário muito grande na região. Precisamos da aprovação da prefeitura – explica o vice de finanças.
Bugre pode chegar ao tri com 'Felipinho' no comando
Mais do que na boa campanha, o Guarani se apega também aos números do técnico Luciano Dias, ex-zagueiro campeão da Libertadores em 1995 pelo Grêmio e discípulo declarado de Luiz Felipe Scolari. Em quatro anos na carreira, foram três acessos, todos com equipes de São Paulo: Sociedade Esportiva Votuporanga (para a Série A-3), Rio Preto e Botafogo (ambos para a Série A-1).
O desempenho do Bugre na última fase poderá levar o clube a um feito inédito, a “unificação” dos títulos nas três divisões. O clube já conquistou o Brasileiro da Série A, em 1978, e da Série B, em 1981, quando ainda era denominada Taça de Prata.
- Ao longo da carreira procurei tirar o melhor de cada treinador. Mas não posso deixar de afirmar que minha convivência com o Felipão foi um grande aprendizado. Foram três anos vencedores – lembra.
De Scolari, Luciano Dias herdou a pouca empolgação com os resultados. Mesmo com o Bugre tendo sido o único invicto na terceira fase, o treinador mantém a cautela para o octogonal final. A estréia do Guarani está marcada para sábado, contra o Águia Marabá, às 16h, no Mangueirão, em Belém.
- Não podemos cometer deslizes agora que é a fase final. Tivemos uma boa evolução durante a competição e temos que aproveitar esse bom momento. Todas as equipes que ficaram possuem muita qualidade e não será fácil ficar com uma das quatro vagas - acrescenta.
Apesar do currículo recheado em pouco tempo na função, Luciano Dias teve de conviver com outro problema além da falta de dinheiro: a desconfiança da torcida alviverde. O comandante, entretanto, prefere dividir com os jogadores os méritos pela boa campanha.
- No começo, meu trabalho foi difícil, ninguém me conhecia. Mas fomos superando isso a cada dia com a ajuda dos jogadores. O Guarani viveu momentos difíceis, mas agora tem uma outra mentalidade. Montamos uma folha salarial sem fazer loucuras e com o comprometimento da diretoria em não atrasar os salários. Isso acabou nos dando a confiança da torcida. É um trabalho de paciência – completa.
Confira algumas estatísticas do time na competição:
1) São 18 jogos até o momento, com nove vitórias, cinco empates e quatro derrotas.
2) O aproveitamento é de 59,25%.
3) São 24 gols a favor e 10 contra.
4) O artilheiro da equipe é o centroavante Fernando Gaúcho, com seis gols.
Time base
Gisiel; Messias, Xandão, Augusto e Roque; Nunes, Claudiney Rincón, Mário César e Marcinho; Dairo e Fernando Gaúcho. Técnico: Luciano Dias.
CRÉDITOS:
Matéria escrita pelo meu amigo Carlos Augusto Ferrari
www.globoesporte.com
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