Antonio Moura de Carvalho, ou simplesmente Tony, é o caçula de quatro irmãos. Nasceu na cidade de São Paulo, no dia 29 de maio de 1986. Lionaldo, seu irmão mais velho, era meio campista no time de aspirantes do Palmeiras. Foi a inspiração para Tony começar no futebol.
``Desde cedo fui meio campista por conta do meu irmão´´, conta Tony.
Com nove anos, Tony iniciou nas escolinhas do São Paulo. Lá, conheceu Ailton Silva, seu primeiro treinador.
``Foi um cara que me incentivava muito, me cobrava muito. Dizia que eu tinha condições de me tornar profissional´´, lembra.
Com apenas 13 anos, Tony pegou um ônibus e foi para Anápolis, interior de Goiás, jogar na base do Anápolis FC.
``Aquelas histórias de uma pessoa falou com a outra que falou com a outra, aí eu me enfiei dentro do ônibus e fui. Lá, eu morava no alojamento do clube, éramos seis ou sete num quarto com quatro beliches´´, recorda.
Chegou a disputar o campeonato goiano, mas retornou a São Paulo em menos de dois anos. Motivo: aspecto físico.
``Eles falavam que eu era muito pequeno e magro´´, relembra.
Quando retornou para São Paulo, foi para a cidade de Ourinhos realizar treinamento especial de suplementação. Ganhou força e, com 15 anos, voltou para o estado goiano, desta vez para jogar no Goiás. Disputou vários campeonatos, Taça São Paulo de Futebol Júnior, ganhou títulos. Quando ia para o time principal, Tony viajou novamente. Foi quando assinou seu primeiro contrato profissional.
``Teve um treinador, o Negreiros, que foi para o Roma Apucarana, no interior do Paraná. Fui convidado para ir, e aceitei. Assinei o contrato profissional e disputei o campeonato paranaense´´, explica.
Campeonato que ficou marcado para Tony. Num chute de fora da área contra o Londrina, marcou seu primeiro gol como profissional. O Roma fez boa campanha, e Tony foi destaque: terminou o campeonato como vice artilheiro, com sete gols, e foi eleito a revelação paranaense, com 20 anos. As atuações chamaram a atenção de empresários, e Tony foi para Portugal, jogar no time B do Porto.
Ficou seis meses lá, depois retornou ao Brasil, para o Coritiba. Teve passagem ainda pelo Ituano antes de assinar longo contrato com o Boavista, no Rio de Janeiro. Em 2009, eleito o segundo melhor meio campista do carioca, Tony foi emprestado para o Botafogo, onde disputou a elite do Brasileiro. Em 2011, o Boavista chegou na final da Taça Guanabara. Na semifinal, contra o Fluminense, Tony marcou um dos gols no empate em 2 a 2. Na final, derrota para o Flamengo.
``Perdemos a final no Engenhão, com gol de falta do Ronaldinho Gaúcho´´, lamenta.
Entre idas e vindas para o Boavista, Tony jogou pelo América de Natal, Ceará, Duque de Caxias e Ponte Preta, onde ajudou a classificar o time para a Sul-Americana de 2013, quando chegaria na decisão, mas passou por um dos momentos mais difíceis da carreira.
``Fraturei o rosto igual ao Rayan (que se lesionou em 2020 atuando pela Ferroviária) e fiquei um tempo parado´´, explica.
Quando retornou, disputou mais um carioca pelo Boavista e um Brasileiro da Série B pelo ABC. Em 2014, o meio campista foi parar na Ásia, atuar na liga iraniana de futebol. Mas não foi uma decisão fácil. Tony já era casado com Fernanda e, em outubro de 2013, nasceram suas filhas: as gêmeas Maria e Antonia.
``Se fosse menino, seria Antonio. Se fosse menina, seria Maria Antonia. Como nasceram gêmeas, dividimos os nomes (risos)´´, justifica.
Mas elas nasceram prematuras e ficaram um tempo na UTI.
``Quando fui para o Irã, elas tinham pouco mais de dois meses. A Fernanda achou melhor não ir comigo, mas me apoiou para seguir em frente´´, afirma.
No Irã, Tony atuou pelo Esteghlal Football Club, de Teerã, um dos principais e mais tradicionais clubes do país. Ele era o único brasileiro do time.
``Não tinha intérprete. No Brasil, eu tinha feito aulas de inglês, lá foi no ‘embromation’ (risos)´´, gargalha.
Ficou seis meses por lá, e disputou o Campeonato Iraniano, a Copa do Irã e a Liga dos Campeões da Ásia.
Quando voltou ao Brasil em 2014, ficou uns meses em casa por causa da janela de transferência. Foi quando surgiu convite inusitado para Tony: ser comentarista sobre a seleção do Irã durante a Copa do Mundo do Brasil.
``Fui ser comentarista na Fox Sports. Me ligaram perguntando se eu não aceitaria comentar sobre o Irã, porque o time que eu atuava era a base da seleção iraniana. Tinha uns cinco titulares da Seleção que eram do Esteghlal´´, ressalta.
Em 2015, Tony quase retornou para o Irã.
``Eu estava para retornar para o Irã, o clube queria que eu voltasse. Mas tinha crianças pequenas, e minha esposa não queria ir para lá, aí acertei para jogar no XV de Piracicaba´´, justifica.
Em Piracicaba, conheceu Roque Júnior, na época técnico do time do interior. Essa ligação seria fundamental para, mais tarde, Tony vir para a Ferroviária. No Paulistão daquele ano, o XV chegou até as quartas de final, quando foi eliminado pelo Santos.
Ainda em 2015, Tony foi para o América Mineiro. Titular, ajudou o técnico Givanildo de Oliveira a conquistar o acesso para a Série A do Brasileiro. No ano seguinte, também conquistou o título mineiro, um marco para o Coelho.
``Fomos campeões mineiro depois de 17 anos. Eliminamos o Cruzeiro na semi e derrotamos o Atlético na final´´, festeja.
Depois, atuou por CRB, Ituano e Juventude. No Juventude, o time foi rebaixado para a série C, e Tony pensou em desistir da carreira.
``Sou um cara muito competitivo, e esse descenso foi muito difícil. Tinha 31 anos. Mas o que me tirou essa ideia de me aposentar foi a Ferroviária´´, lembra.
Roque Júnior, então diretor de futebol da Ferroviária, ligou para Tony vir para a Ferroviária. Ele se mudou com a família para Araraquara.
``Quando cheguei e vi a estrutura, como eram as pessoas, sem vaidade, criei ânimo para continuar jogando. E tinha treinador diferente, o Vinicius Munhoz, cara totalmente diferente dos outros. Aí eu pensei: pô, eu me encontrei´´, elogia.
Com a camisa da Ferroviária, Tony ajudou a Locomotiva na melhor campanha da equipe após o retorno à elite. No Paulistão de 2019, foi um dos artilheiros do time, com dois gols.
``Para mim foi mágico, porque o que eu vivi aqui na Ferroviária eu vivi poucas vezes no futebol. Tive alguns bons momentos de título, acesso, liga dos campeões da Ásia. Mas o que a gente viveu aqui ano passado (2019) foi muito diferente, porque o grupo era muito bom, o time era bom, a torcida abraçou nossa ideia´´, fala.
A Ferroviária foi eliminada nas quartas de final após dois empates contra o Corinthians. Na decisão por pênaltis, no Itaquerão, ele errou a cobrança.
``Fiquei muito chateado, porque eu vinha bem no campeonato, criei identidade legal com o clube e a cidade. E me senti responsável pela eliminação. Foi chateação muito grande, responsabilidade que eu não poderia deixar de assumir. Mas todos me apoiaram, jogadores e família´´, relembra.
Depois do Paulistão, foi emprestado para o Figueirense. No time catarinense, apesar de lutar contra o rebaixamento, Tony conheceu o técnico Hemerson Maria.
``Estávamos numa situação difícil no Figueirense. Então o Hemerson se sacrificou por nós, e ainda ajudou alguns jogadores que estavam sem receber. Foi um cara que me surpreendeu muito com as atitudes de bem que ele teve´´, enaltece.
Agora, retornou à Ferroviária. Em 2020, antes da suspensão das competições por causa da pandemia de coronavírus, a Locomotiva brigava por vaga nas quartas de final do Paulistão novamente e já fez história ao avançar para a terceira fase da Copa do Brasil pela primeira vez. Quando a temporada retornar, Tony já tem claro seu objetivo, caso permaneça na Ferroviária: o acesso no Brasileiro.
``Se eu permanecer no clube, tenho bem claro em minha mente o acesso para a Série C. O time e a cidade merecem essa alegria, e vou dar meu máximo para conquistar´´, promete.
Texto: Tiago Pavini/Ferroviária SA
Fotos: Tiago Pavini e Jonatan Dutra/Ferroviária SA
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