O Red Bull Bragantino apresentou o técnico português Pedro Caixinha, de 52 anos, para o comando da equipe na temporada 2023. Nascido em Beja, Portugal, ele é ex-jogador - atuou como goleiro - com passagens por equipes de seu país natal entre 1989 e 1999.
Iniciou sua carreira de treinador aos 28 anos, no Desportivo Beja, e foi assistente técnico de José Peseiro no Sporting (POR), Al-Hilal (KSA), Panathinaikos (GRE), Rapid Bucuresti (ROM) e Seleção da Arábia Saudita.
Depois, Caixinha foi treinador do União Leiria e do Nacional, de Portugal, comandou as equipes mexicanas do Santos Laguna e Cruz Azul, dirigiu a equipe catari do Al-Gharafa e, em 2017, foi técnico do Rangers, da Escócia. Entre 2020 e 2021 comandou o Al Shabab, da Arábia Saudita e, mais recentemente, treinou o Talleres, da Argentina.
Com contrato de dois anos com a equipe bragantina - até dezembro de 2024 – Pedro Caixinha concedeu sua primeira entrevista.
Poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória no futebol? Você atuou durante alguns anos como goleiro, certo?
Sim, é verdade. Tentei seguir esse sonho de criança – como quase todas as crianças em países que gostam do futebol, como Portugal e Brasil. Tinha, de fato, esse sonho de ser profissional de futebol, ser goleiro. Tive a possibilidade de chegar a uma equipe da primeira divisão, com 17 para 18 anos. Mas depois entendi que não era muito bem a minha vocação. E foi quando comecei a estudar o futebol de outra maneira, e entender que o meu caminho no futebol não estaria no gol, mas sim no nível do treino (técnico).
Como essa experiência, tendo sido jogador, o ajuda no relacionamento com os jogadores hoje em dia?
Em qualquer tarefa, é fundamental nós acreditarmos muito naquilo que fazemos. Na tarefa de liderar, seja qual ela for, é fundamental ter a arte de convencer. Eu penso que isso é importante. Por isso é preciso conhecer, conhecer os jogadores, saber como vivem, conhecer o pensamento, conhecer o dia a dia. Saber quais são suas frustrações e alegrias. Mas saber também que é processo muito claro, o que representa exercer profissão tão desgastante, por um lado, mas tão bonita por outro – que é ser jogador de futebol. E obviamente, com isso, também ter muito claro qual é o comportamento ideal que deveríamos ter quando exercemos esse trabalho, em particular num clube que tem essa filosofia tão clara e marcada.
Quais são as suas primeiras impressões da cidade de Bragança Paulista?
São muito boas. É uma cidade pequena – mas eu colocaria aqui quase 6 ou 7 daquilo que é o tamanho da minha cidade em Portugal (risos) – mas permite ter qualidade de vida. Passamos muito tempo no centro de treinamento, mas gostamos de fazer parte daquilo que é o dia a dia da cidade, de ir aos restaurantes da cidade, de ir ao cinema, estar a viver como uma pessoa perfeitamente normal, inserida numa cidade. E penso que vamos ter a qualidade de vida necessária para poder viver aqui e ter essa qualidade também no trabalho que vamos desenvolver no dia a dia. É importante ter essa identificação com a cidade, porque quando se estás bem em um lugar, isso torna tudo mais fácil.
Você passou por diversos países, nessa trajetória como treinador, como Arábia Saudita, Grécia, Escócia, México, Argentina. Qual será, na sua opinião, o maior desafio nesta adaptação ao Brasil?
Penso que já tinha saudades de falar em bom português. Penso que a comunicação é ponto importante, quando falamos a mesma linguagem, estamos também muito mais identificados. É verdade que há muitos termos brasileiros com os quais eu ainda preciso me identificar. Vou até criar um glossário para que as coisas sejam mais facilitadas, não para mim, mas na minha comunicação com vocês, com os jogadores e todos os envolvidos no dia a dia do futebol. Termos essas raízes comuns e algo da nossa história que nos une, é um ponto importante. Procuro conhecer tudo aquilo que é cultura, que é idiossincrasia local. Minha experiência de ter trabalhado com muitos jogadores brasileiros – em outro contexto – ajuda nesse sentido. Hoje sou eu o estrangeiro aqui. Acho importante conhecer a cultura, para perceber determinados comportamentos e atitudes, que tem a ver com nosso passado, nossa cultura, nossa gente. É importante ter esse conhecimento, para tomar as melhores decisões. Quanto mais conhecimento, melhores decisões iremos tomar. O futebol é global, é universal. Mas já tivemos uma reunião para conhecer, por exemplo, no detalhe cada uma das competições – que são diferentes, a nível de organização, em cada país.
Ainda sobre essa bagagem, mesmo vindo da escola portuguesa de futebol, é possível dizer que as experiências em cada país pelo qual você passou moldaram, de certa forma, o seu estilo de trabalho atual?
Não, o estilo do trabalho não. A base do trabalho, a ideia e a metodologia, essas eu penso que temos um pilar, ao qual vamos adicionando sempre novas ferramentas, novo conhecimento. Importante estar sempre aberto a isso. Por exemplo, em Portugal tínhamos apenas um treinador estrangeiro, e todos os demais eram portugueses, o que quer dizer que todos os demais normalmente têm um pensamento comum. Quando tive essas experiências em outros países, via e enfrentava treinadores de diferentes origens e isso era bom porque nos obrigava a ter muita flexibilidade em relação às diferenças que iríamos encontrar quando enfrentaríamos essas ideias de futebol.
Mesmo chegando agora, já conhece um pouco da cultura do futebol brasileiro? Qual a sua opinião a respeito do estilo de jogo e comportamento do torcedor no Brasil?
Se pudesse resumir em uma palavra, o estilo de jogo é joga bonito. É universal. O jogador brasileiro tem qualidade técnica individual incrível. Com o passar dos anos, os jogadores – nível mundial – também mudaram muito a sua forma de ver o treino, são cada vez mais profissionais, procuram se preparar cada vez mais para aplicar o estilo de jogo do futebol brasileiro, e a intensidade que o jogo atual exige. Não tive muitos contatos com torcedores no Brasil, ainda. Estive no Maracanã – quando jogamos lá com o Talleres – e penso que os torcedores brasileiros são muito apaixonados pelo jogo. Gostaria de aproveitar para deixar uma mensagem para os nossos torcedores – de Bragança e de toda a região Bragantina – que há uma palavra que eu aprendi, nessa minha entrada no projeto e quando estive em Salzburg (Áustria), é a palavra alemã “álle”, que quer dizer “Todos”. Nossa representação vai ser quando tivermos 11 jogadores em campo, com o peso e a responsabilidade desse todo – que é o apoio que nós lhe demos, o suporte que nós lhe demos, o carinho que nós lhe demos. Se todos conseguirmos isso, vai se sentir o peso que todos estão ali, e que todos vamos na mesma direção.
Fale um pouco sobre a sua expectativa no Red Bull Bragantino?
As expectativas são grandes. Eu gostaria de dizer e destacar que esse é o projeto com o qual eu mais me identifico. Penso que tem que haver sempre um perfil, do clube, do treinador, do jogador. É preciso haver um ponto de ligação. Nossas ideias de jogo são coincidentes com as ideias do clube, com conjunto de jogadores que tem esse perfil, para executar essas ideias. Nossas expectativas são essas: de estilo de jogo agressivo, equipe que quer sempre atacar o gol adversário quando está com a bola, ou atacar a bola quando está sem ela. Sabemos que a equipe já tem esse histórico, mas é isso que queremos aprimorar para crescermos juntos.
Quais foram suas primeiras impressões a respeito do time? Já conhecia alguns jogadores do nosso atual elenco?
É elenco muito jovem, em termos de composição da equipe. É uma coisa que eu também me identifico. Equipe com dinâmica, intensidade, agressividade, forte ao longo dos 90 minutos, sempre com essa ideia de jogo agressivo. Tivemos a oportunidade de analisar a equipe nos últimos 3 a 4 jogos da temporada, para ter ideia mais próxima daquilo que era a realidade quando conversamos com a diretoria do clube. Um jogador que eu já conhecia era o Lucas (Evangelista), porque o vi atuar em Portugal, no Vitória de Guimarães. Estamos a analisar todos os demais, para conhecer melhor em detalhes. Existe uma proximidade grande com todos os departamentos, e isso é fundamental, ter essa cooperação com todas as áreas, para que tenhamos conhecimento profundo e plano integral para o jogador. Para quando chegarmos aqui, e iniciarmos o processo no dia 2 (de janeiro), tudo isso já tenhamos – do nosso lado – como informação, para trabalharmos com a intensidade que esperamos.
Em janeiro já iniciaremos a disputa do Campeonato Paulista. Como enxerga essa possibilidade de, a curto prazo, já ter contato com o nosso torcedor em competição importante?
Estamos contentes. É importante que as pessoas que estão nas arquibancadas, nossos torcedores, se identifiquem com aquilo que se passa dentro de campo. Essa é a nossa responsabilidade e, claro, de todos jogadores. Para que no dia 15 de janeiro, neste cenário, a gente possa começar a jogar, com um único pensamento, jogo a jogo, que é ganhar.
Para finalizar, poderia deixar um recado para os torcedores do Red Bull Bragantino?
E aí, Massa Bruta! Estamos prontos para essa temporada 2023. Contamos com você. Vamos trabalhar forte. Queremos que você tenha orgulho, cada vez que vier ao nosso estádio. E voltem para casa contentes, porque a equipe deu tudo dentro de campo, e fruto desse sacrifício e deste trabalho, conquistamos sempre 3 pontos. Contamos com vocês! Vamos, Massa Bruta!
Fonte e fotos: assessoria de imprensa do Red Bull Bragantino
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