sábado, 19 de junho de 2021

Caso Eriksen: Como é a vida de quem implanta um cardiodesfibrilador no corpo?


Há uma semana, pessoas do mundo inteiro estavam preocupadas com a vida do jogador da seleção da Dinamarca, Christian Eriksen, que teve um mal súbito no jogo da Eurocopa contra a Finlândia e desabou dentro de campo. O meio-campista já teve alta e voltou para casa, após passar por cirurgia para implante de cardiodesfibrilador interno. Ainda não há uma definição sobre sua volta aos gramados.

O que aconteceu com Eriksen não é incomum, estima-se que 4 milhões de pessoas morram no mundo por morte súbita. Raro mesmo é ter sobrevivido, já que a taxa de sobrevivência de um episódio de morte súbita é de 7,6% em países desenvolvidos.

Mas, como fica a vida de quem passa por isso? É diferente para uma pessoa comum e um atleta? Para o cardiologista, eletrofisiologista e professor José Alencar é preciso ter cautela.

``Não dá para dizer que ele voltará a jogar, o aparelho implantado vai observar a frequência cardíaca de Eriksen, e o algoritmo pode ser iniciado com o aumento dos batimentos, o que é muito provável de acontecer em um jogo de futebol´´, explica o autor dos Manuais de ECG e de Medicina Baseada em Evidências e professor da Sanar.

Os choques emitidos pelo cardiodesfibrilador implantado no corpo dos pacientes são intensos e desconfortáveis?

``Quando a frequência cardíaca aumenta e desperta o aparelho são dados choques, com dores fortes e traumáticas para muitos pacientes, não é uma situação confortável´´, pontua Alencar.

Quando os choques acontecem é necessário procurar imediatamente uma unidade de saúde para fazer exames e acompanhar a situação.

Mas, e nos casos de pacientes que não são atletas? Para esses, o especialista explica que a retomada da rotina é mais fácil, já que não implica necessariamente em situações de alta frequência cardíaca.

``Para uma pessoa comum a volta à rotina após um procedimento como esse é mais tranquila, é possível cumprir as tarefas diárias e até fazer exercícios físicos de baixa e média intensidade, como uma caminhada ou corrida´´, diz Alencar.

Algumas práticas precisam ser adaptadas, como passar pelas portas das agências bancárias, plataformas de segurança nos aeroportos ou até mesmo fazer um exame de ressonância magnética, já que o aparelho pode ser danificado e prejudicar o paciente.

``No mais, é fazer um acompanhamento médico com frequência e seguir orientações para conviver com o aparelho´´, alerta Alencar.

Importância do DEA, o Desfibrilador Externo Automático

Não seria exagero dizer que Eriksen teve um mal súbito em um dos lugares com mais chance de sobrevivência: o campo de uma partida de futebol. Sim, o rápido atendimento especializado e a existência de um Desfibrilador Externo Automático (DEA) no local foram essenciais para salvar o jogador.

``É muito difícil sobreviver a um mal súbito sem a reanimação feita pelo DEA, nestes casos a velocidade é o principal aliado da vida. Para se ter ideia, 60% das mortes súbitas acontecem em casa, quando as pessoas não têm os equipamentos e atendimento necessário em pouco tempo, precisando se deslocar até uma unidade de saúde´´, explica o cardiologista. 

São muitas as legislações no Brasil que falam sobre a necessidade da presença do equipamento em locais públicos, seja no âmbito federal, estadual ou municipal. O espírito de todos textos é permitir o acesso de um desfibrilador DEA em locais com aglomeração ou circulação de pessoas como estações rodoviárias, metroviárias, ferroviárias, aeroportos, centros comerciais, shopping centers, estádios e ginásios esportivos e eventos com expectativa relevante de público, como shows, partidas de futebol e outros.

``É preciso chamar a atenção das autoridades e da população à importância da presença do aparelho e do treinamento das pessoas para salvar vidas também em outros ambientes, como empresas, condomínios e escolas´´, finaliza o especialista.




Fonte: José Alencar é Cardiologista e Eletrofisiologista. É ainda autor do Manual de ECG e do Manual de Medicina Baseada em Evidências, ambos pela Editora Sanar. É professor e coordenador de cursos também pela Sanar.


PR Sanar - (71) 9.8141.2211


A foto do atleta é uma reprodução do Instagram

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