Aos 37 anos, o veterano Giovanni recebeu muitas críticas por causa da campanha irregular do Mogi Mirim (veja o mascote) ao longo do último Campeonato Paulista. Apesar de ter sido contratado pelo amigo e presidente Rivaldo, o craque foi muito cobrado pela torcida e imprensa. Mas, mesmo alternando altos e baixos ao longo da competição, ele deu a volta por cima com estilo e contribuiu decisivamente para o Sapão não ser rebaixado para a Segunda Divisão (Série A-2).
Na última rodada, quando o Mogi Mirim precisava vencer para não ser rebaixado, Giovanni jogou muita bola. E voltou a desequilibrar em campo. Fez um golaço, participou das jogadas que originaram outros dois gols, e contribuiu para a vitória por 5 a 2 diante do Noroeste, em Bauru.
- Foi melhor do que ganhar um título pelo Barcelona (Espanha), pelo Olympiakos (Grécia) - comparou o camisa 10 do Mogi Mirim, que atuou em 17 das 19 partidas do clube no Paulistão.
Giovanni está indeciso se vai continuar jogando futebol até o final da atual temporada, ou se o Mogi Mirim foi o último clube em sua gloriosa carreira. O craque aguarda a concretização de algumas propostas, mas adianta que será preciso ser algo tentador, como aconteceu com o Sapão, que convença não só a ele, mas também a sua família, que a aposentadoria merece ficar para dezembro.
Confira, na íntegra, a entrevista concedida por Giovanni ao site oficial do Mogi Mirim:
Após um período de mais de um ano e meio afastado do futebol profissional, você retornou aos gramados para ser o capitão do Mogi Mirim, o jogador em que Rivaldo e cia. depositaram toda a confiança. Como você descreve essa experiência?
Giovanni: Como boa, já que o objetivo deles era permanecer na Série A-1 do Paulista. Então, acho que a gente cumpriu nossa meta. A gente sabe que a montagem do clube foi muito em cima da hora, não tivemos tempo para trabalhar, mas agora que a gente permaneceu, eles vão ter muito mais tempo para acertar o clube.
Você foi o primeiro jogador contratado, depositaram uma grande confiança e você foi um líder para esse grupo. Como conviveu com essa responsabilidade?
Giovanni: Acho que no futebol a responsabilidade é de todos. É claro que, no futebol, as pessoas sempre escolhem alguém para liderar, até para ser exemplo, não só dentro de campo, como fora também. Mas eu acho que quando você entra em campo, todos têm que ser responsáveis. E foi o que aconteceu. Apesar de estar todo o campeonato na zona de rebaixamento, o grupo todo foi bom, pelo o que eu vi de todos os jogadores. Mas você sabe que no futebol, às vezes, as situações não se encaixam. Mas no final nós mostramos isso aí. Mas a liderança tem que ser de todos e todos têm que assumir essa responsabilidade. E eu sabia da minha, que ia ser o jogador mais exigido, mais cobrado, porque sempre foi assim no futebol e sempre será. Mas fico feliz porque no final de tudo, eu, particularmente, ajudei o Mogi Mirim a permanecer na Série A-1.
Das 19 rodadas do Paulistão, o Mogi esteve fora da zona de rebaixamento em apenas três e conseguiu se manter na Primeira Divisão somente na última partida. Essa situação difícil que o time atravessou foi vivenciada de que maneira pelo grupo? Em algum momento você teve dúvidas sobre a permanência do Mogi Mirim na Série A-1?
Giovanni: Passamos praticamente o campeonato todo na zona de rebaixamento, mas o grupo nunca jogou a toalha, nunca desistiu. Principalmente porque nós mantivemos a amizade até o fim. Isso aí acho que foi um fator primordial para que a equipe não caísse. Acho que qualquer outro clube nessa situação já jogaria a toalha, teria brigas, e no nosso grupo nunca houve isso aí.
Houve um momento decisivo em que vocês souberam que o Mogi Mirim não cairia?
Giovanni: Eu, particularmente, desde o início já sabia. Porque eu creio muito em Deus e quando ele me enviou para cá, ele tinha me dado essa direção. Acredito que não só para mim, mas para outros jogadores. Mas Deus acho que sempre reserva o melhor para o final. É claro que você fica incomodado, mas sempre tendo a esperança de que você não vai cair. E foi o que aconteceu.
Nas 15 primeiras rodadas do Paulistão, o Mogi Mirim havia conquistado apenas nove pontos. Nas últimas quatro rodadas, foram três vitórias e um empate. A que você atribui essa recuperação do time na reta final?
Giovanni: Um lado de Deus, mas também de todo o trabalho que nós fizemos, junto com a comissão técnica, desde o Gelson até o Paulo Campos e o Givanildo. Acho que todos têm sua parcela de contribuição. Felizmente nessa reta final nós conseguimos acertar a equipe dentro de campo. O Givanildo tem muitos méritos, é um treinador que sempre salva os clubes, e mais uma vez, junto com todo o grupo, nós conseguimos essa salvação.
Você viveu um momento especial durante este Campeonato Paulista, ao enfrentar o Santos, no Pacaembu. Foi o reencontro com o clube no qual você até hoje é ídolo, no palco do melhor jogo de sua carreira - 5 a 2 sobre o Fluminense, na semifinal do Brasileiro de 1995, pelo Santos. Você recebeu muitas homenagens naquele dia e foi calorosamente recepcionado pelos torcedores. Como foi aquele momento?
Giovanni: Sempre é especial. Quando você faz parte da história de um clube e você tem o reconhecimento pelos torcedores é gratificante. A torcida do Santos sempre mostrou esse carinho por mim. Sempre que eu vou a Santos, o pessoal me para na rua, as pessoas me cumprimentam por aquela brilhante performance que nós tivemos em 1995. Eles me respeitam não só como jogador, mas como pessoa também, e isso aí não tem preço. Foi uma experiência muito boa e a realização de um sonho, que eu sempre tive vontade de participar de mais um Paulista. E Deus me deu essa oportunidade. Estou muito feliz.
Na partida contra o Noroeste, além de ter marcado um golaço, o primeiro com a camisa do Mogi, você deu o passe para os dois primeiros gols que abriram a goleada. Como você descreve a emoção desta partida? Foi seu melhor jogo pelo Mogi?
Giovanni: Não só pelo Mogi Mirim, mas é mais do que ganhar um título. Porque nos outros clubes onde eu passei, eu jogava pelo status e pelo dinheiro e aqui no Mogi foi totalmente diferente. Eu vim por amizade, vim por prazer. Então, isso aí não tem dinheiro que pague. E você livrar um time como o Mogi Mirim, que merece estar na Série A-1, por toda a estrutura que tem, por todo o pessoal da comissão técnica, diretoria, presidência, tentando fazer um trabalho honesto, é muito bom. E espero que possa dar muitos frutos ainda. Vai dar, porque o trabalho é sério e é correto. Mas foi melhor do que ganhar um título pelo Barcelona, pelo Olympiakos.
Antes do jogo, você disse algo ao grupo? Como foi a conversa de vocês no vestiário?
Giovanni: Sempre motivado. A gente sabia que dependíamos só de nós mesmos e a gente sempre acreditou nisso aí. Realmente nunca desistimos e acho que isso aí foi a chave para conquistar essa permanência na Série A-1. E o grupo entrou determinado e conseguimos nosso objetivo.
Este foi o seu último jogo pelo Mogi Mirim. Foi o último da carreira também? Pretende continuar a jogar ou pensa realmente em pendurar as chuteiras?
Giovanni: Não sei ainda. O tempo agora é de pensar, de parar um pouco. Relaxar, descansar. Mas é o que eu sempre disse para as pessoas. Se aparecer um clube que me agrade e tenha uma boa estrutura e que a cidade também seja boa para minha esposa e para os meus filhos, eu vou pensar com carinho. Senão, vou encerrar aqui mesmo.
Se for encerrar sua carreira no Mogi Mirim, está de bom tamanho? Era o que você imaginava para o encerramento ou imaginava algo diferente?
Giovanni: Não, acho que está bom, já que logo no início o objetivo era permanecer na Série A-1. Essa pequena semente que a gente lançou, que é o início de um trabalho, lá na frente vai ter os frutos e a gente vai ver que nós fizemos parte desta história.
Como você avalia, então, sua passagem pelo Mogi Mirim? Satisfeito?
Giovanni: Satisfeito. Bastante feliz. Nunca estive tão feliz na minha vida como estou aqui no Mogi Mirim. Cidade muito boa, fiz muitos amigos, e isso aí dura para o resto da vida.
Etnogênese. Niterói RJ.
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