O São Caetano envergou a sua torcida na temporada de 2020, quando chegou a ser goleado por 9 a 0 para o Pelotas, na Série D do Campeonato Brasileiro, onde também deu um vergonhoso WO. E por motivo justo! Salários atrasados, bagunça nos bastidores e diretoria incompetente. Reflexo de tudo isso? Em 2021, o Azulão foi rebaixado no Paulistão.
Para acabar com a bagunça e a penúria financeiro do São Caetano, o empresário Manoel Sabino Neto, que preside a associação do circuito de compras (responsável pela Feira da Madrugada), comprou a empresa São Caetano Futebol e passou a comandar o Azulão, que já na sua gestão, na Copa Paulista, no segundo semestre de 2021, fez boa campanha.
Agora, para disputar a Série A2 (Segunda Divisão) do Campeonato Paulista, tudo indica que o São Caetano voltará a mostrar competência, dentro e fora de campo. E Sabino, entrando agora no mundo da bola, pretende ter o mesmo sucesso em campo que tem fora dele.
Confira na íntegra a entrevista concedida por Sabino ao repórter Dérek Bittencourt, do jornal Diário do Grande ABC, onde falou sobre os primeiros meses de gestão a frente do clube.Ambição não pode nem deve ser confundida com arrogância. Ainda mais quando parte de um empresário que há algumas semanas transformou a Feirinha da Madrugada em um grande shopping center no Centro da Capital.
Manoel Sabino Neto espera usar todo o expertise que tem à frente da associação do circuito de compras de São Paulo para gerir o futebol do São Caetano – que no sábado completou 32 anos desde a fundação –, com olhos voltados às categorias de base e ao resgate da identidade com a cidade. Mais do que isso: quer demolir a atual estrutura do Estádio Anacleto Campanella e transformá-lo numa moderna arena a partir de 2024.
O São Caetano completou neste sábado 32 anos, qual o ‘presente’ que a atual gestão deu para o clube?Uma boa gestão.
O Estádio Anacleto Campanella apresenta uma estrutura bastante antiga. Essa nova gestão pensa em fazer uma grande reforma no local e transformá-lo numa Arena Azulão?
A ideia não é fazer uma reforma, mas, sim, colocar no chão e erguer uma arena. A ideia é de início das obras em 2024, com duração de dois anos para conclusão. Com ajuda dos vereadores, do prefeito, em 2024 daremos início à construção da Arena Azulão.
Você, Manoel, é um empresário que pouco – ou nada – tinha a ver com o futebol, inclusive preside a associação do circuito de compras (responsável pela Feira da Madrugada). O que te trouxe para o comando do São Caetano Futebol SAF (Sociedade Anônima do Futebol)?
O desafio, (ser) algo novo. Quando estudamos um pouco sobre futebol e vimos que no Brasil ia virar empresa, que dava para começar a ser profissional, entendemos que valeria a pena. A marca São Caetano, tem grande valor. Foi aí que olhamos para esse negócio e agora estamos gerindo como uma empresa. A gente não veio não simplesmente para investir algum dinheiro, mas porque é o São Caetano. A meta nossa, e vamos atingi-la, é que primeiramente o São Caetano seja o grande do Grande ABC.
Antes de se aproximar do clube, já o conhecia?
Pelas mídias (sociais) e pelo Diário do Grande ABC.
Recorda algum momento marcante dos tempos áureos do time, entre os anos 2000 e 2010?
A tristeza na final da Libertadores (no vice-campeonato de 2001), onde, com certeza, o Azulão merecia o título.
Após um semestre à frente do clube, como avalia este tempo na presidência do São Caetano?
Passei a gostar de futebol.
Você encontrou um clube endividado, com problemas judiciais, contas bloqueadas, desacreditado e sem crédito. Como é o desafio de reverter todo este cenário e o que já foi feito?
É um risco calculado. A gente não entrou no São Caetano sem antes entender todo o cenário onde estava. A primeira coisa que buscamos fazer foi resgatar a credibilidade do São Caetano, o nome, e respeitar os prestadores de serviço. Procuramos todos e estamos tentando equacionar os problemas começando do menor ao maior valor. Pouco a pouco estamos colocando a casa em ordem. Uma das nossas preocupações foi que todos os colaboradores que passaram por dificuldades nos últimos anos, por ‘n’ motivos que não cabem aqui, porque o que importa é o que a gente vai fazer daqui para a frente. A gente não está aqui para resgatar nada do passado, além dos títulos, que devem ser respeitados.
Como foi a negociação para assumir a gestão do São Caetano?
Turbulenta, mas valeu a pena.
E o contrato firmado é de quanto tempo?
Não. Eram coisas diferentes, A empresa São Caetano Futebol é diferente do clube AD São Caetano. E nós adquirimos o São Caetano Futebol, então não tem tempo de gestão. Sou o proprietário da empresa do futebol.
Como é a sua relação com o presidente da parte social, Nairo Ferreira de Souza?
Profissional.
Quais são os planos da gestão para o 2022 do São Caetano?
Desde que iniciamos, nossa meta é 100% voltada à base, em cima dos garotos. Em 2023, o time profissional do São Caetano será totalmente formado pela base do Azulão. Vamos criar. O São Caetano tem tradição de formar grandes jogadores, destacar grandes nomes. Estamos buscando estrutura para que os atletas possam desenvolver o potencial deles. Existem vários nomes que saíram do Azulão. E vamos resgatar isso.
Em 2021, o sub-15 chegou à segunda fase do Paulista, o que nunca aconteceu na história, o sub-17 quase chegou na segunda fase, o sub-20 chegou na terceira fase e o profissional, que sequer iria disputar a Copa Paulista, chegou à semifinal, sendo eliminado pelo campeão (São Bernardo FC). Dá para dizer que, mesmo que não tenha vindo um título, é início satisfatório?
Totalmente satisfatório e com certeza a gente deu recado tanto para os torcedores quanto demais times que, como diz o slogan, o Azulão voltou.
E a longo prazo, quais suas intenções para o Azulão?
Ser campeão em tudo o que disputarmos e formar os melhores atletas.
O São Caetano vem de rebaixamento no Paulistão, em uma das piores campanhas de sua história. O planejamento que vem sendo feito para a Série A2 de 2022 prevê a volta imediata do Azulão para a elite estadual?
A ordem é imediata.
Como estão as buscas por parceiros? Há conversas com investidores estrangeiros?
Sim. Há conversas com investidores do mundo árabe, bem avançadas. Mas queremos arrumar a casa (primeiro). Por isso até o momento nosso uniforme, por exemplo, não tem até o momento nenhum tipo de patrocínio. Estamos buscando investidores e parceiros que tenham seriedade no mercado. Para conseguir respeito com investidores de alto nível, precisa ter respeito dentro da própria casa primeiro. Procuramos fazer isso no Azulão e as conversas passaram a avançar.
O Azulão será sede da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Qual foi a intenção do clube em se candidatar em receber um dos grupos do torneio?
Mostrar que o Azulão apesar de todos os problemas que passou recentemente é um dos grandes (clubes) de São Paulo, apto a receber e ser sede da Copinha. Temos todo apoio da gestão pública no estádio e nos campos para treinamento. Então temos tudo para ser, por que não?
Como é hoje a relação entre o São Caetano Futebol e a Prefeitura?
Totalmente aberta. O apoio foi uma das coisas que sentimos segurança como empresa para tocar o São Caetano, porque vimos que os gestores municipais, tanto o prefeito Tite (Campanella) quanto o prefeito (José) Auricchio (Júnior) e os vereadores, estavam de portas abertas para alguém que quisesse assumir o Azulão como time de futebol e não brincar de administrar.
Como é o relacionamento com os demais clubes do Grande ABC?
A gente está há pouco tempo na gestão. Estou conhecendo o pessoal, os parceiros, nossos vizinhos. Mas no pouco contato que tive me trataram com respeito, com boa receptividade. Estou gostando.
Qual tem sido a participação do pentacampeão Edmilson nesta atual gestão?
O Edmilson é amigo particular, pessoal. No início, quando assumi, veio para dar uma consultoria dentro do que iria encontrar no São Caetano. Hoje não está mais dentro da estrutura (da diretoria), mas segue sendo meu consultor e amigo, sigo me aconselhando sempre com ele, por ser cara respeitado no futebol, conhecedor, então faz parte do São Caetano, sim. Não no papel, mas no coração.
Há algum clube que você enxerga como modelo de gestão e serve como exemplo para sua forma de gerir o São Caetano?
Sim. O Real Madrid.
Como estão as obras de construção do shopping ‘Nova Feira da Madrugada’?
As obras do shopping foram entregues há cerca de 15 dias, estamos em fase de ajustes, mas está aberto para o público, os comerciantes pouco a pouco estão começando a montar suas lojas. Mas após quatro anos de obra, está aberto. Foi cansativo, mas estamos satisfeitos.
Uma mensagem de coração para os torcedores, que sofreram muito nos últimos dez anos. O que você e seu grupo podem oferecer para mudar essa história?
Peço para que a torcida e amigos acompanhem, porque estão tendo uma gestão profissional no São Caetano. Entendemos que goste de disputa, ganhar títulos, vencer adversários. Nós, como empresa, nossa meta é ter vitórias, mas precisamos evoluir. Uma empresa avalia não só a vitória, mas também a evolução em diversos os setores. Vamos tratar com respeito e com dignidade todos nossos atletas desde a base. Aqui não haverá nenhum tipo de cobrança para que o jogador venha fazer teste ou fazer parte do São Caetano. Não haverá nenhum tipo de falcatrua ou jeitinho brasileiro para estar dentro do São Caetano. Se estiver dentro, é porque comissão técnica avaliou e viu que tem potencial para seguir no clube.