Os jogos do Brasil são verdadeiros feriados e estão chegando. As escolas fecham, os trabalhos paralisam, e todos ficam atentos na seleção. Algo surreal que chama atenção dos estrangeiros e que contribuiu para nos intitular como o país do futebol. Nesta época, até quem não costuma se envolver com o esporte durante a temporada, coloca sua camisa e torcer como se não houvesse um amanhã.As expectativas sempre são as melhores, tendo em vista que é a única seleção que participou de todas as competições e levantou a taça em cinco oportunidades. É comum que haja bolões entre os amigos para adivinhar os resultados.
Porém, nem sempre o resultado é aquele esperado. Ao longo da história do Brasil nos campeonatos mundiais, a seleção sofreu algumas quedas dolorosas que deixaram o país em prantos. Derrotas em finais e até uma goleada vergonhosa quando ninguém esperava.
Confira algumas zebras da seleção brasileira.
1950: O Maracanaço
No ano de 1950, o Brasil sediou o campeonato pela primeira vez na história. Além da seleção da casa, outras 12 também participaram da competição. Na primeira fase, o elenco treinado por Flávio Costa venceu México e Iugoslávia, e empatou com a Suíça.
A estreia no quadrangular final aconteceu contra Suécia, no Maracanã. O duelo terminou em vitória brasileira por 7 a 1, com três gols de Ademir. Na sequência, o Brasil aplicou outra goleada: 6 a 1 diante da Espanha.
O elenco estava embalado e pra lá de animado para o mais importante confronto do torneio, assim como os torcedores, que estavam eufóricos e aguardavam o primeiro título mundial. Afinal, os resultados mostravam a diferença técnica entre o Brasil e as demais seleções.
O ambiente era ótimo dentro da seleção, que por sua vez, já era tratada como a campeã tanto pela torcida, quanto pela imprensa. Porém, uma polêmica decisão dos dirigentes mudou o clima do time.
Logo após o triunfo contra os espanhóis, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), atual CBF, decidiu mudar a concentração da seleção. Os atletas foram obrigados a trocar o tranquilo e isolado bairro de Joá, pelo agitado estádio de São Januário.
Na manhã do dia 16 de julho de 1950, data da final, a concentração foi infestada de políticos, que discursaram por horas, acabando com o sossego de Zizinho, Baltazar, Ademir, Barbosa e companhia.
No documentário Copa de 50: Da euforia ao silêncio, produzido pela ESPN Brasil, o goleiro Barbosa disse que os jogadores receberam apenas sanduíches de presunto e queijo e garrafas d'água para comerem no vestiário da final.
Além de todo o tumulto, Barbosa afirmou que pouco antes do jogo, o prefeito do Rio de Janeiro Mendes de Moraes falou que o título era obrigação, pois ele havia construído o estádio do Maracanã para isso. E foi com esse clima pesado que o Brasil entrou em campo contra o Uruguai.
Friaça abriu o placar no primeiro tempo. O empate uruguaio foi sacramentado por Schiaffino e a virada por meio de Ghiggia.
A inesperada derrota precisava de um culpado,e o alvo do fracasso foi Barbosa. Muitas pessoas o apontaram como o grande vilão, afirmando que o goleiro falhou no segundo gol.
1982 - Uma geração traumatizada
É difícil encontrar uma pessoa que viveu a Copa de 1982 e não saiu traumatizada. Na época, o Brasil colecionava três taças e já era o maior campeão do mundo. Porém, os 12 anos sem ganhar o torneio, traziam certa carência a público que não conseguiu acompanhar o tricampeonato em 1970.
A seleção de 1982, embora não tenha levantado o caneco, é, certamente, uma das maiores da história de todas as Copas.
O time era composto por Waldir Peres, Leandro, Oscar, Luizinho, Junior, Cerezo, Falcão, Sócrates, Zico, Serginho e Éder. Os brasileiros ainda eram comandados por Telê Santana.
Na primeira fase da competição, o Brasil não teve dificuldades para passar. Deixou para trás, a União Soviética, Nova Zelândia e Escócia. Na segunda fase, se encontrou logo de cara com a Argentina de Diego Maradona, e eliminou os hermanos pelo placar de 3 a 1.
Com esses jogos tranquilos, e uma escola de futebol dentro das 4 linhas, o mundo colocava o Brasil como o favorito ao título. As bandeiras decoravam as ruas do país para o povo festejar.
Mas pela frente o Brasil tinha a forte seleção da Itália, que contou com uma atuação brilhante de Paolo Rossi. O atleta marcou 3 gols na vitória italiana por 3 a 2.
Com uma das melhores seleções de sua história, a Copa de 1982 ficou marcada pela frustração de uma geração.
2014: O fatídico 7 a 1
Depois de mais de 60 anos de espera, o Brasil foi escolhido para receber mais um campeonato. Ao invés de 12 seleções, como na primeira edição realizada no país, 32 seleções desembarcam em território brasileiro para a disputa do torneio.
Anos antes da Copa, em novembro de 2012, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou Luiz Felipe Scolari como o novo comandante da seleção. Felipão, o técnico do penta em 2002, chegou junto ao auxiliar Carlos Alberto Parreira, treinador do tetra.
O anúncio dividiu opiniões, parte da imprensa afirmou que a comissão era ultrapassada. Mesmo assim, os dirigentes da CBF deram carta branca a Felipão e companhia para convocar, organizar e planejar tudo na seleção.
Outra parte apoiou o trabalho do treinador. Mas isso não é novidade, escolhas de técnicos e convocações sempre causam polêmicas.
Assim, o Brasil iniciou a preparação para a Copa. A grande diferença das edições anteriores foi a ausência das eliminatórias. Afinal, todas as seleções precisam disputar as eliminatórias, exceto o país sede.
No período, o selecionado jogou apenas duas competições oficiais: Copa América de 2011 e Copa das Confederações de 2013. Felipão esteve presente apenas na segunda, que reúne campeões continentais e o país sede da próxima Copa.
O torneio de tiro curto envolveu Brasil, Espanha, Itália, Uruguai, Japão, Nigéria e Taiti. O desempenho agradou bastante, com direito a 4 a 2 contra a Itália e um histórico 3 a 0 diante da Espanha na final.
O título veio e a maravilhosa exibição na decisão embalou a seleção até a Copa, dando a impressão que o Brasil estava na ponta dos cascos para a Copa. Felipão e sua comissão tiveram tranquilidade para trabalhar.
Com isso, o Brasil chegou ao torneio como favorito ao título. Não apenas pela conquista da Copa das Confederações em 2013, mas também por ser anfitrião da Copa. Para muitos, não tinha como o Brasil ficar sem o troféu.
Na fase de grupos, a seleção passou sem dificuldades por México, Croácia e Camarões. Porém, sem grandes aparições. Neymar era o craque, todas as jogadas passavam pelos pés do camisa 10. Ele era a referência dentro de campo.
A seleção quase caiu nas oitavas, decidindo a vaga nos pênaltis contra o Chile. Passou da Colômbia nas quartas graças ao golaço de David Luiz. E chegou às semifinais sem encantar.
Na tarde de 14 de julho de 2014, o Brasil entrou em campo para enfrentar a Alemanha no Mineirão com a seguinte formação: Julio César; Maicon, David Luiz, Dante e Marcelo; Luiz Gustavo, Fernandinho, Bernard, Oscar e Hulk; Fred.
Como todos sabem, o duelo terminou em 7 a 1 para os alemães. Aquela foi a pior derrota do Brasil na história das Copas. Além da goleada inédita, tratava-se de uma Copa realizada em território brasileiro. Ou seja, os donos da casa foram eliminados de uma forma vergonhosa.
O que também chamou a atenção foi o desempenho dos jogadores. O Brasil estava completamente perdido diante do poderio da Alemanha. Nada deu certo naquele dia. No entanto, é difícil exigir dos atletas boas atuações com uma direção e comissão técnica desorganizada.
O vexame mostrou que o futebol brasileiro precisava, e ainda precisa, passar por grandes mudanças. Mostrou que o Brasil parou no tempo, lembrando apenas do passado, mas se esquecendo do futuro.