Amigos que acompanham o Blog do Futebol Caipira. Depois do acesso do Audax, o antigo Pão de Açúcar (PAEC), para a Primeira Divisão do Campeonato Paulista, surgiu uma notícia desanimadora para o clube. Em matéria assinada pelo jornalista Vinicius Lordello, da revista Exame.
Confira a matéria na íntegra!
A informação é bastante desanimadora para o esporte brasileiro. O Grupo Pão de Açúcar planeja vender o clube de futebol Audax, que conta com uma equipe na primeira divisão nos campeonatos estaduais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Desanimadora porque o clube é, sem dúvidas, um modelo de gestão para o futebol. Idealizado há 10 anos por Abílio Diniz, ex-controlador do Grupo Pão de Açúcar, em pouco tempo chegou à elite dos dois campeonatos estaduais que (ainda) são referência no futebol brasileiro. Oficialmente, a assessoria do Grupo Pão de Açúcar esclarece que a venda deve ocorrer porque “o ciclo de evolução do projeto está concluído e o Audax atingiu sua meta de chegar à elite de São Paulo e do Rio de Janeiro”.
Claro que merece ser respeitada, porque é a posição oficial do Grupo, mas o projeto nunca comunicou que o previsto era apenas chegar à elite desses campeonatos. O clube nasceu, ainda que não falasse claramente isso, para ser uma referência na administração do futebol aos demais clubes brasileiros, mostrar que o futebol é sustentável no nosso país, se gerido com competência e responsabilidade. E com um orçamento próximo a R$ 20 milhões anuais – um valor que não é estratosférico para os padrões atuais do futebol-, vinha conseguindo. Agora era o momento que todos que acompanhavam a trajetória esperavam: como será quando estiver na elite? Não será.
Chegar à primeira divisão do campeonato carioca e paulista foi importante, mas o Audax já é muito mais. O clube revelou jogadores de destaque que já chegaram até a seleção brasileira. Entre eles, o mais conhecido é Paulinho, volante do Corinthians, destaque nos últimos títulos conquistados pelo clube, do qual o Audax ainda mantém 50% dos direitos econômicos. Além disso, o centro de treinamento do clube em São Paulo é absolutamente estruturado para o desenvolvimento de seus atletas: possui alojamentos, departamentos de fisiologia, fisioterapia, departamento médico, salas de estudo e recreação, piscina aquecida, auditório e rouparia.
Todos os atletas das equipes de futebol são cuidados como seres humanos. A frase pode parecer piegas, mas o futebol é especialista em olhar para os seres humanos e enxergar apenas atletas ou, pior, meros jogadores. No Audax, eles têm assistência médica/odontológica, seguro de vida, aulas de inglês. Para os atletas da base, é oferecida ajuda de custo, vale-transporte e extremo cuidado com a formação escolar. O trabalho com as categorias de base é nitidamente o grande acerto e orgulho do Audax, presidido por Fernando Solleiro e que tem Thiago Scuro como seu competente gerente executivo. O clube também tinha José Carlos Brunoro em sua direção até o início de 2013, quando o profissional acertou sua ida para o Palmeiras.
A decisão do Grupo Pão de Açúcar, ao que parece, está muito mais ligada à disputa interna entre o grupo francês Casino (novo controlador da rede de supermercados) e Abílio Diniz, ainda presente na administração do Pão de Açúcar. Por ser mentor do projeto, Abilio tem relação afetuosa com o Audax. A venda do clube representará mais uma derrota do brasileiro para o grupo francês.
Mas a derrota maior é do esporte nacional e representa uma perda ainda maior para os brasileiros. Se ainda temos poucos exemplos de boa gestão no Brasil, no futebol ela é exceção. Perder o Audax é perder a referência que vinha sendo construída com calma, mas sem preguiça. Clubes de todo o Brasil, mesmo sem declarar, já se espelhavam na estrutura do Audax. As preocupações, após essa decisão do Pão de Açúcar, recaem sobre o Núcleo de Alto Rendimento Esportivo (NAR), um centro de excelência esportiva também gerido pelo Grupo, que oferece completa estrutura para atletas de alto rendimento.
O Audax, até por sua essência, nunca teve grande torcida, e ainda assim só fez crescer. Pois se não tinha, agora tem. O triste é que a torcida não é para que ganhe títulos, mas simplesmente para que não acabe.